CAPÍTULO IV

RELAÇÃO DE PAULO COM AS IGREJAS

Tendo concluido este breve mas profundo estudo da pessoa e trabalho do Senhor com um especial lembrete da mudança que Ele tinha forjado neles, Paulo agora volta-se para sua própria relação com as igrejas. Ele assim o faz a fim de lançar um fundamento para sua autoridade. Em seguida, ele começa com algumas credenciais do seu ministério antes de chegar à sua mensagem. Tinham seus falsos mestres alguns segredos filosóficos? E daí? Ele revela-lhes o mistério do Deus e de que maneira isto os beneficia.

Passando rapidamente ao motivo que o impeliu a pregar e a sofrer por Cristo, Paulo dá ênfase ao esforço que fez para "apresentar todo o homem perfeito em Jesus Cristo" (v. 28). Isto era para impedir qualquer tentativa da parte dos colossenses de acusá-lo de negligenciar de entregar a mensagem completa de Deus. Em seguida, manda que eles permaneçam firmes na fé, não prestando nenhuma atenção aos enganadores, e que comprendam que, embora ele não possa estar com eles fisicamente, está com eles em espírito. Finalmente, relembra-os de que devem andar em Cristo.

Versículo 23. Agora Paulo lança-lhes uma observação muito poderosa. SE NA VERDADE PERMANECERDES NA FÉ deve tê-los levado a considerar para onde esses falsos profetas os estavam guiando (2:8,18). "Se na verdade" é uma forte e enfática combinação acrescentando uma verdadeira interrogação à sentença. Iriam eles ou não continuar dentro do arcabouço da "fé" (Gál. 5:1-10)? Nesse caso "fé" tem o artigo definido e não se refere nem à esperiência de salvação deles nem ao seu andar diário. Em vez disso, Paulo está falando de um credo definido do Novo Testamento (2:7; Judas 3; II Tes. 3:2; I Tim. 3:9; 6:21). Poderiam essas inovações dos falsos mestres enquadrar-se dentro das crenças aceitas pela igreja primitiva? A carta aos colossenses é um sonoro não!

Os verbos FUNDADOS E FIRMES mostram-nos como devemos persistir "na fé." O verbo traduzido "fundados" vem de um verbo grego significando "por um fundamento" (Ef. 3:17). O outro, firmes, significa "permanecer estabelecido" e "constante" depois de estarmos fundados na Rocha (I Cor. 7:37; 15:58).

A pessoa que está fundada e que permanece firme em Cristo não é atingida pelo perigo da segunda parte desta admoestação: E NÃO VOS MOVERDES DA ESPERANÇA DO EVANGELHO. O homem que construiu na areia foi deslocado pela tempestade, mas nada pode mover aquele que construiu em Cristo (Mat. 17:24-27). Devemos não somente crer, mas crer na fé que foi entregue uma vez por todas à Igreja pelos apóstolos (I Tim. 6:20,21; Heb. 2:3). Não devemos ser afastados da verdade, sempre em busca de algo novo. Aqui esperança inclui mais do que nossa recompensa celestial (v. 5), pois envolve também nossa salvação e tudo que a mensagem do Evangelho nos declara.

A verdade é o Evangelho O QUAL TENDES OUVIDO, O QUAL FOI PREGADO A TODA A CRIATURA QUE HÁ DEBAIXO DO CÉU E DO QUAL EU, PAULO, ESTOU FEITO MINISTRO. Os colossenses nao podiam apelar para a ignorância, não podiam dizer que não sabiam. (Para a evangelização deles e uma discussão sobre toda, vide os versiculos 6, 7). Paulo era um ministro do Evangelho, e consequentemente, de Cristo (1:1; I Cor. 1:17). (Vide nota sobre ministro no v. 7). Aqui a frase refere-se à sua chamada missionánia.

Versiculo 24. REGOZIJO-ME AGORA NO QUE PADEÇO POR VOS. Paulo não somente sofreu grandemente pela igreja primitiva, mas também era grato pelo privilégio que Deus lhe tinha dado de sofrer pelos outros. Pode algum de nós comparar suas experiências com aquelas registradas em II Cor. 11:23-28? Que temos nós sofrido? Não somente não temos sofrido, como também não nos regozijamos na hora da provação e tentação! Somos melhores do que nosso Senhor e do que Paulo para que escapemos da inimizade do mundo e de Satanaz?

Todos nós dever morrer pelos nossos próprios pecados. Conquanto Ele nos tenha livrado dessa monte, Ele nunca prometeu que seríamos libertados de perseguição ou mesmo da morte (João 15:20,21). "Todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos" (II Tim. 3:12). Do primeiro século até hoje uma parte ou outra da Igreja tem sofrido devastadoras perseguições por causa do nome de Cristo. Muitos têm dado suas vidas por Ele. Por que deveríamos esperar ser poupados? Por que deveríamos pensar que Deus nos ama tanto que não permitiria que perseguições se levantassem em nosso dia? Em nossa terra? (Vide Heb. 12:6).

E NA MINHA CARNE CUMPRO O RESTO DAS AFLIÇÕES DE CRISTO. A palavra traduzida "resto" significa "carência" (Filip. 2:30), ou "falta" (II Cor. 8:14). Como é possível que qualquer coisa esteja faltando no sacrifício do Senhor? Não disse Ele mesmo, "Está consumado"? (João 19:30). Que o sacrifício de Cristo foi perfeito e completo é visto em que o Pai estava plenamente satisfeito com ele (Filip. 2:9-11). Que está faltando, pois? Falta a proclamação desta salvação ao mundo. Certamente Satanaz, que lutou ao máximo para impedir o Filho de Deus, não vai sentar-se e permtir que carreguemos livremente a mensagem atravês do mundo. De maneira que temos uma abençoada oportunidade de sofrer por Ele e por outros. O verbo Cumprir é forte e significa "preencher completamente." Será que Deus nos permitiria nesta geração evangelizar todos aqueles que ainda não O conhecem?

Os sofrimentos físicos de Paulo eram PELO SEU CORPO QUE É A IGREJA. Desde que nossos sofrimentos completam os do nosso Salvador, e desde que Sua paixão continha valor salvador para todo o mundo, a seguinte questão está pronta a ser levantada: "Quanto mérito têm nossos sofrimentos pelos outros?" De acordo com a doutrina Católica Romana nossos sofrimentos e morte são méritos redentores quando estamos em união com Ele. Primeiro de tudo; notamos que eles não podem ser redentores. A Igreja já tinha sido comprada e constituida por Cristo (I João 2:2). Apesar de que Paulo ter sofrido por eles, eles não foram salvos por Paulo (I Cor. 1:13). Segundo, nossos sofrimentos proclamam ao mundo nossa relação com o Senhor (João 15:18-23). Finalmente, somos meramente os "meios" de espalhar a história do Evangelho. Se os sofrimentos do Criador infinito não pagaram plenamente o preço, que poderiam nossas tribulações adicionar às dEle? Nada!

Versículo 25. DA QUAL, da Igreja universal pela qual ele sofre, EU ESTOU FEITO MINISTRO. Ministro é usado aqui no sentido oficial. Paulo, Epafras e Arquipo (4:17) são o que poderiamos chamar "acreditados" ou "aceitos" mestres da Palavra. Ao contrário de "ministro do Evangelho" no versículo 23 que significa missionário, a frase "ministro da igreja" refere-se à sua comissão de ensinar os mistérios revelados àqueles que crêem. Paulo ministrou SEGUNDO A DISPENSAÇÃO. A Dispensação significa a "regulamento da casa"; por consequência, dispenseiro ou administrador (Lucas 16:1-4). Desde o dia da sua salvação Paulo sabia o que Deus tinha para ele (Atos 9:15,16) e partiu para fazê-lo de acordo com o cargo de dispenseiro que lhe tinha side dado (I Cor. 9:17; Ef. 3:7-10).

A empresa era DE DEUS, i.é., Deus era igualmente autor, doador e em análise final, proprietário. QUE ME FOI CONCEDIDA. Do nós mesmos não temos nada: tudo que temos foi recebido. Multipliquemos nossos talentos para Sua honra e glória (Mat. 25:14-30). PARA CONVOSCO, i.é, para os gentios em geral (Atos 9:15), apesar de seu ministério centralizar especialmente na Ásia Menor onde ele passou a maioria da sua vida. Conquanto nunca tivesse visitado Colossos (1:4; 2:1), pôs o fundamento da sua evangelização para alcançar com o Evangelho Éfeso e outros largos centros da Ásia Menor.

O propósito da administração de Paulo era PARA CUMPRIR A PALAVRA DE DEUS. O verbo cumprir é aquele do qual plenitude (v. 19) vem, e significa encher, aperfeiçoar, completar (João 3:29), especialmente completar aquilo que está faltando (Filip. 4:18) Obviamente Paulo não pode aperfeiçoar coisa alguma feita por Deus. Paulo não inventou nada novo, ao contrário ele desenvolve e esclarece aquilo que está latente no Evangelho. Aqui palavra serve para a mensagem total de Deus (vide 1:5).

Versículo 26. "A saber"--deveria ter sido colocado aqui para ligar o "mistério" aqui mencionado com a "palavra de Deus" do versículo 25. O MISTÉRIO QUE ESTEVE OCULTO. Mistério é uma palavra grega transliterada que significa "secreto" ou "oculto". As religiões do Oriente Próximo usavam-na para referir-se a um certo ramo do conhecimento que era revelado somente àqueles que eram iniciados na seita. Alguns acham que Paulo estava definitivamente influenciado por elas, alegando que o uso que ele faz da palavra mistério prova isto. Contudo, os segredos delas eram apenas para os iniciados; Paulo declara que os do Deus são para ser conhecidos de todo o mundo (Ef. 3:9,10).

Um mistério do Novo Testamento1 descobre a múltipla sabedoria de Deus (Ef. 3:10). A idéia fundamental é que a verdade revelada por Deus não foi descoberta pelo homem, nem mesmo o poderia ser (Ef .3:3,5). Contudo uma certa porção de obscuridade permanece para o homem natural, como é visto na frase esteve oculto. Este verbo está no Pretérito Perfeito do grego e implica que, conquanto revelado, uma parte permanece oculta (I Cor. 2:13,14; Mat. 13:9-11). Apesar de ter sido imperfeitamente compreendido, nosso Senhor falou abertamente em parábolas, e o apóstolo Paulo pediu orações em seu benefício de maneira que ele pudesse abertamente proclamar o mistério do Evangelho (Ef. 6:19).

De quem estava o mistério escondido? DOS SÉCULOS E DAS GERAÇÕES. Conquanto estas palavras normalmente se refiram a tempo (Ef. 3:5), aqui elas estão em contraste com santos. Num sentido elas referem-se a todos os incrédulos do passado (I Cor. 2:7-10), mas particularmente aos santos do Velho Testamento que não compreenderam ou previram um povo de Deus judaico-gentílico. E QUE AGORA FOI MANIFESTO AOS SEUS SANTOS. Santos aqui dificilmente se refere a Israel, pois este povo era justamente aquele que combateu tão arduamente o ministério gentílico de Paulo. Deve se referir aos crentes vivos, especialmente aos lideres (Ef. 3:5). (Vide notas sobre 1:2,12).

Versículo 27. AOS QUAIS DEUS QUIS DAR A CONHECER. Os santos do versículo 26, especialmente os judeus convertidos, não podiam admitir que os gentios fossem admitidos a Igreja somente pela fé o que fossem coherdeiros com eles (Ef. 2:19;3:6). Através de todo seu ministério Paulo foi aborrecido por eles.2 Como em 2:1 quis aqui significa "deseja". Deus desejava, apesar de que não tenha insistido, que eles compreendessem (Ezeq. 33:11).

QUAL SEJA A RIQUEZA DA GLORIA DESTE MISTÉRIO ENTRE OS GENTIOS. Paulo amontoa adjetivos e frases para mostrar a importância deste mistério. QUE É CRISTO EM VÓS. Aqui a união com Cristo que nosso Senhor prometeu a Seus discipulos (João 14:23) foi estendida para incluir os colossenses que eram predominantemente gentios (1:2; Oséias 2:23). A preposição em implica uma relação constanto e imutável com o Criador. Esta união irradia-se em muitas direções: intelectualmente podemos ter a "mente de Cristo" (I Cor. 2:16), espiritualmente podemos ter de novo aquele andar de Adão com Deus o Santo, fisicamente podemos reclinar-nos nos braços eternos (1:11), etc. O resultado é mais do que uma restauração da imagem de Deus a qual Adão perdeu (vido 1:15). Nossas vidas deveriam ser verdadeiras reencarnações do Filho de Deus (Gál. 2:20; Filip. 1:21).

Paulo elabora acrescentando A ESPERANÇA DA GLORIA. A Glória aqui não tem nada que ver com brilhantismo, ao contrário, refere-se a Deus mesmo. O da pode indicar, ou origem (a glória vem de Deus), propriedade (ela pertence a Deus), ou finalidade (glorificação). O terceiro dificilmente poderá ser escolhido, pois o Cristo interno não nos incita a desejarmos ser exaltados. Paulo provavelmente quis significar uma das duas primeiras possibilidades, ou ambas. Quanto à esperança pode se referir a vós (únicos embaixadores de Deus), ou até mesmo à toda a frase "Cristo em vós" (o desejo de Deus para o crente). As duas são semelhantes e provavelmente foi intenção de Paulo usar a ambas. Finalmente. Paulo introduz a última frase com a quem, a qual liga mistério e Cristo em vós como equivalentes. Desta forma; mistério = Cristo em vós = esperança da glória. Os três são basicamente o mesmo.

Versículo 28. A QUE ANUNCIAMOS. Em grego, onde o pronome deve concordar em gênero com o antecedente, Cristo é excluido porque é masculino. A que, sendo neutro, refere-se a mistério. Em I Cor. 2:2 Paulo limitou sua pregação entre os incrédulos a "Cristo crucificado", a base da redenção. O mistério (vide 1:27) é o resultado da redenção nesta vida (Ef. 4:24). A ambos deve ser dada ênfase. Sem o primeiro, o segundo é impossivel, sem o segundo, o primeiro resulta em cristãos defeituosos.

Paulo prega ADMOESTANDO A TODO O HOMEM, E ENSINANDO A TODO O HOMEM EM TODA A SABEDORIA. Ele admoesta o perdido e ensina o salvo (Comp. I Cor. 2:1-5 com I Cor. 2:6-16). O verbo admoestar significa "advertir do julgamento a vir" (II Cor. 5:11; Ezeq. 3:17-21). Sua visão era ilimitada: "todo incrédulo para Cristo." A segunda parte do Evangelismo de Paulo, ensinando todo homem, é primariamente dirigida àqueles que atendem ao Evangelho (I Cor. 2:6). Paulo procurava treinar homens e mulheres para levar seu mesmo tipo de ministério (II Tim. 2:2). A mensagem de Paulo não foi modelada pela sabedoria dos homens; era de Deus (1:9; I Cor. 1:18-24,30). Ele diz "toda sabedoria" para mostrar que ele não retinha nada (Atos 20:27).

O ministério de Paulo estava toda ligado a um ideal: PARA QUE APRESENTEMOS TODO O HOMEM PERFEITO EM JESUS CRISTO. Nestas palavras está resumido o propósito do seu sofrimento (v. 24) a sua pregação (v. 27). Paulo se apresenta como um sacordote oferecendo homens perfeitos a Deus (I Tes. 2:19,20). Ele queria apresentar "todo o homem" a Deus e para alcançar sua finalidade viajou a pé milhares de quilômetros, pregou em muitas partes do Império Romano o esforçou-eso ao máximo (v. 29) para ganhar tantas almas quanto possível para o Senhor. Que esforço temos feito?

Contudo, sua finalidade não era apenas ganhar almas, mas também conduzí-las à perfeição. Notai que ele diz "todo o homem perfeito." Prefeito significa amadurecido, completamente bom, perfeito em caráter. Da Biblia (Mat. 5:48; Deut. 18:13) aprendemos que Deus exige perfeição do Seu povo; pela vida diária notamos que nenhum homem é perfeito. Alguém poderá reconciliar as duas coisas dizendo que a palavra não inclui perfeição sem pecado. Mas como pode o pecado ser dissimulado na perfeição exigida em Colossenses 4:12? Filipenses 3 indica como reconciliar estes dois pensamentos. No versículo 15 Paulo inclui-se entre os que são perfeitos, contudo no versículo 12 do mesmo capítulo ele nega que seja perfeito. O primeiro indica a perfeição que recebemos no momenta da salvação, o segundo temos que lutar por alcançar (II Cor. 7:1).3 Nós estamos unidos a Cristo: nossas vidas devem medir-se pelo Seu exemplo (Ef. 4:13; I João 2:6). Como? (Vide Col. 3:14).

Versículo 29. No versículo 28 Paulo declarou o "fim": PARA ISTO TAMBÉM TRABALHO. Agora ele nos diz "como". Trabalho é uma palavra forte, indicando o tremendo esforço que Paulo fez para ganhar as perdidos (I Tes. 2:9). Seu testemunho não foi regido por oportunidades superficiais (Atos 18:4,5). Ele junta o particípio presente COMBATENDO para dar a idéia do contínuo impulso, do tremendo esforço dele para vencer (I Cor. 9:24-27).

Seu trabalho foi bem sucedido porque foi SEGUNDO A SUA EFICÁCIA, PELO QUE ELE OBRA EM MIM PODEROSAMENTE. O substantivo e o verbo são da mesma raiz e juntos fortalecem a idéia do auxílio que Deus extende àqueles que se gastam a si próprias por Ele. O sentido básico das palavras é poder ativo e efetivo (2:12; Ef. 4:16; Gal. 2:8). Não há cristão que não possa extrair recursos do Deus Todopoderoso. O segundo a liga juntamente o esforço de Paulo e a autorização de Deus. Eis aqui o segredo. Assim como no versículo 11 Deus não fortalece por amor à força, assim aqui Ele trabalha poderosamente somente naqueles que estão fazenda o máximo para servi-lO. Podemos vós e eu dizer que estamos usando nossos talentos ao máximo por Ele? Se não, isto explica porque não experimentamos o tremendo poder de Deus em nosso ministério por Ele!

Cap. II. Versículo 1. Chegamos agora à relevância do ministério de Paulo, uma vez que o mesmo afetava especialmente os colossenses. Até este ponto ele tem falado em termos gerais, palavras que poderiam ter sido enviadas a quasi qualquer igreja. QUERO QUE SAIBAIS. Estará ele se jactando, como foi forçado a fazer em II Cor. 11? Ao contrário, ele quer que eles saibam que seu interesse não é uma fantasia passageira, e sim que está ancioso para que eles venham a completo entendimento do mistério que ele esboçou em 1:27 (Vide v. 2).

QUAO GRANDE COMBATE testifica da veracidedo do interesse de Paulo. A palavra combate quando transliterada em português é "agonia" e significa uma "violenta luta". Apesar de Paulo estar na prisão, ele não se limitava à orações profundas em benefício deles. Em adição à muita oração ele enviou-lhes uma carta, e um dos seus colaboradores (Tíquico) para encorajá-los (4:7,8).

TENHO POR VÓS E PELOS QUE ESTÃO EM LAODICÉIA. Já notamos (1:2) que Colossos ficava no Vale de Licus, à margem do rio. Laodicéia ficava somente 15 a 20 quilômetros distantes e era maior e mais próspera.4

ATÉ dá idéia de que Paulo não conhecia a maioria das pessoas nessas igrejas, de que ele não as tinha provavelmente visitado. O fato de que a cidade foi evangelizada por Epafras até o fim da estada de Paulo em Éfeso concorda com esta interpretação. Depois que Paulo foi expulso de Éfeso (Atos 20:1), não teve ele nunca outra oportunidade de visitar Colossos. Cerca de 6 anos tinham so passado entre este incidente e a escrita desta carta (Vide 1:4). Em lugar de usar a deselegante construção POR QUANTOS NÃO ViRAM O MEU ROSTO EM CARNE, escreveríamos "por quantos nunca me encontraram." Apesar de que ele não saudasse nenhum deles pessoalmente, Paulo indubitavelmente conhecia alguns deles das suas viagens a Éfeso. Apesar disso, muitos anos tinham se passado, e a grande maioria tinha sido convertida depois que ele deixou Éfeso.

Versículo 2. Aqui Paulo dá a razão da sua fervente oração d versículo 1; a saber, PARA QUE OS SEUS CORAÇÕES SEJAM CONSOLADOS. Ele particularmente desejava firmar na fé aqueles que lhe eram desconhecidos (v. 1). O coração é o lugar dos sentimentos, e afeições colocadas erroneamente levam a mente a caminhos tortuosos e à conclusões errôneas. Ele deseja que eles tenham segurança em lugar de serem constantemente inquietados doutrinariamente (Ef. 4:14). Ao nos esforçarmos para extirpar erros e doutrinar os filhos de Deus devemos ser cuidadosos em não pisotear seus sentimentos. Devemos corrigir (II Tim. 3:16), mas devemos fazê-lo de tal maneira que os comforte o os atraia para mais perto de Deus.

Este consolo do coração é trazido por estarem unidos. Conquanto não haja lugar para divisões do tipo mencionado em I Cor. 1, ainda assim onde uma matéria de princípios é envolvida, Paulo não tem medo de permanecer sozinho contra a maioria (Gál. 2:11-14; Atos 15:36-41). A união verdadeira não é para ser procurada no terreno da transigência, mas sim EM AMOR PARA TODA RlQUESA DA PLENA CONVICÇAO DO ENTENDlMENTO, PARA PLENO CONHECIMENTO DO MlSTÉRIO DE DEUS--CR1STO. Amor e humildado devem motivar nossos esforços para converter outros às nossas crenças (Filip. 2:3,4). Feito com qualquer outro espírito nossas tentativas resultarão em fracasso, desentendimentos e sentimentos feridos.

O Entendimento é mais do que conhecimento, é a compreensão das inferências, um claro discernimento intelectual dos "por ques" e dos "motivos." A maioria de nós está satisfeita com os fatos da história do Evangelho sem aplicar seus princípios ao nosso viver diário (Vide também 1:9). Apesar de raramente usada no Novo Testamento, "convicção plena" é muito impressiva, sua ênfase estando no absolutismo da convicção (Tiago 4:17; Rom. 14:23). Paulo visava nada menos do que o perfeito conhecimento da pessoa e trabalho de Cristo da parte de seus leitores. Quando isto é atingido, há uma riqueza de comunhão, uma profundeza de percepção, e paz e segurança de espírito que não pode ser abalada por falsos mestres.

Segundo, Paulo queria que eles tivessem "pleno conhecimento do mistério de DeusCristo". Em um sentido isto é a explicação e a elaboração da frase precedente: Pleno conhecimento está aqui em oposição direta à chamada ciência especial dos falsos mestres (vide nota em 1:6). (Para o significado de mistério vide as notas sobre 1:26). Apesar disto estar basicamente no mesmo contexto com 1:27, o mistério de que Paulo fala aqui é diferente daquele lá mencionado Neste caso o mistério é o Messias, o filho unigênito de Deus (I Tim. 3:16; Col. 1:14-22).5 Não é de se espantar que os filósofos pagãos não podessem compreender o Senhor Jesus Cristo, muito menos relegá-lO a um mero lugar na filosofia grega.

Versículo 3. No versículo 2 Paulo declarou que o mistério de Deus é Cristo. Agora ele elabora. EM QUEM ESTÃO ESCONDIDOS TODOS OS TESOUROS DA SABEDORIA E DA CIÊNCIA. Esconder aqui não significa encobrir para ser invisível ou oculto. Antes, denota que essas coisas formam de tal maneira uma parte do Senhor que não podem ser removidas dEle. Deseja-se significar a essência da sabedoria e da ciência. Aqui elas são aproximadamente equivalentes à uma parte da plenitude que habita nEle (1:19). (Para sabedoria vide 1:9 e para ciência 1:6). Podemos obter uma porçao divina desta sabedoria e deste conhecimento pedindo-as em oração (1:9; Tiago 1:5; I Cor. 2:6) Não há necessidade e não há desculpa para todas as especulações ignorantes que se ouve no meio do povo de Deus. Nunca podemos alcançar a perfeição, mas podemos todos melhorar a nossa vida e sabedoria espiritual.

Versículo 4. Agora o motivo de Paulo para escrever: DIGO ISTO. Notai que ele não ordena que eles expulsem seus falsos mestres. Muito menos lhes diz para taparem seus ouvidos ou queimarem os livros heréticos. Em lugar disso, ele diz QUE NINGUÉM VOS ENGANE. Ele lhes tinha dado a verdade a respeito de Cristo e espera que eles estejam aptos a se haver com os falsos mestres. Quais eram algumas das falsidades que foram apresentadas aos colossenses? (Vide Cap. I; Col. 1:16; 2:8, 16-19, 20-23). Somente os fracamente treinados são iludidos por uma imitação. Em lugar de perdermos nosso tempo estudando toda sorte de falsos evangelhos a fim de combatê-los, devemos estudar a verdade e conhece-la tão bem que possamos reconhecer qualquer discrepância da mesma.

Todos os impostores procuram laçar suas vítimas COM PALAVRAS PERSUASIVAS, palavras que soam plausivas, palavras que têm um som de verdade, e contudo estão cheias de erros. Desde o primeiro século a Igreja tem sofrido insediosos ataques internos (Atos 15; I Pedro 2:1-3; Judas 3, 4). Muitos negam a verdade pela sua omissão silenciosa. Não devemos ficar satisfeitos apenas com um ministério experiente, o homem simples que se assenta no banco da igreja deve também ser bem treinado na verdade.

Versículo 5. PORQUE AINDA QUE ESTEJA AUSENTE QUANTO AO CORPO, CONTUDO EM ESPÍRITO ESTOU CONVOSCO. O apóstolo Paulo não podia estar presente em toda parte. Enquanto se assentava envelhecendo numa prisão romana, o cuidado de todas as suas igrejas pesava grandemente sobre ele (II Cor. 11:28). Estava ele afastado em Roma? Seu amor a cada igreja e seu desejo de ajudá-las em seus problemas individuais fazia com que ele estivesse presente espiritualmente com todas elas (I Cor. 5:3).

De que a mensagem de Epafras (1:7) não foi inteiramente desagradável, deduz-se da frase, REGOZIJANDO-ME E VENDO A VOSSA ORDEM. Seu interesse por eles era tão genuino que ele estava pronto a regozijar-se pelos pontos bons. Ao contrário dos corintos (I Cor. 11:17) os colossenses podiam ser elogiados por sua conduta regular, especialmente nas suas reuniões.

E A FIRMEZA DA VOSSA FÉ EM CRISTO. Paulo também se rogozijava de que eles estivessem firmes, sólidos, firmados na sua fé (I Pedro 5:9). Muitos foram confundidos pelos falsos mestres, mas evidentemente a maior porção permaneceu firme naquilo em que tinham sido ensinados. Esta carta foi um baluarte para os indecisos, uma sólida reafirmação para aqueles que estavam firmes e um selo de aprovação no ministério de Epafras. Fé aqui pode referir-se à sua crença continua (Heb. 10:38) ou ao seu credo (1:23). Possivelmente Paulo tinha em mente ambos os sentidos, mas o último é mais provável. Notai outra vez que não é apenas "fé", mas fé fundada em Jesus Cristo (1:27: 2:2,6).

Versículo 6. COMO, POlS RECEBESTES O SENHOR JESUS CRISTO, ASSIM TAMBÉM ANDAI NELE. Como os gálatas (Gal. 3:1-5), alguns dos colossenses estavam enamorados de certas especulações (1:16, 2:8, 16-23). Paulo não expressa aqui dúvida sobre a salvação deles. Em vez disso, mostra a lógica e a necessidade de continuarem nEle que lhes tinha trazido sua salvação (1:22). O pois refere-se à declaração de Epafras a Paulo da conversão deles (1:4) e resume o inteiro argumento da supremacia de Cristo de 1:14 a 2:5. Desde que Jesus Cristo é preeminente sobre tudo, a imagem de Deus, o Criador de tudo, etc., por que deveria haver o mínimo desejo que fosse de se procurar outros mediadores? Jesus é o Messias, o Ungido de Deus. Ele é a Palavra, a mensagem de Deus ao homem. Ele é também o Senhor, o Jeová do Velho Testamento (Filip. 2:11). (Vide 1:1,2).

Eles tinham "recebido" o Senhor pela simples fé; eles O tinham recebido não somente como Salvador, mas também como a chave para vida e felicidade. Se foi nocessário a pessoa dEle para libertá-los da perdição eterna, Ele também é necessário para guiar e dirigir o cristão nas éscolhas diárias que a vida lhe impõe (João 6:39; Rom. 8:35-39). Somos ordenados a "andar nEle". Nós todos vivemos e nos movimentamos e temos nossa vida em Cristo, todos somos sustentados por Ele (1:17). A começar de 3:5-17 Paulo mostra como o cristão deve andar. Que contraste entre esses ideais e a vida vivida antes da conversão! Sem a absoluta e continua dependência dEle não poderemos nunca por esses ideais em prática. (Sobre andar vide também 1:10; 3:7).

Versículo 7. Esta é uma explicação e uma ampliação do mandamento dado no versículo 6. ARRAIGADOS E SOBREEDIFICADOS NELE. O verbo arraigar fala da salvação, os primeiros passos dados na nova vida. Uma árvore deve crescer para dentro da terra antes de subir. Deve haver um firme fundamento e continua fonte de vida. Arraigados corresponde a recebido do versículo 6. Sobreedificados continua o pensamento da planta que começou a crescer. Refere-se ao crescimento em Jesus Cristo, e corresponde a "andar" do versículo 6. Paulo não quer significar que obteremos igualdade com Ele, mas ao contrário de que devemos procurar nEle e nEle somente a satisfação de todas as nossas necessidades espirituais. Ele sozinho é suficiente. Se por acaso existe outros mediadores (1:16), estão eles abaixo dEle em posição, poder e pessoa. Paulo agora acrescenta um elemento não exposto no versículo 6. E RESOLUTOS NA FÉ, ASSIM COMO FOSTES ENS1NADOS. Ser resoluto é estar estabelecido e constante sem vacilar (I Cor. 1:8; e a idéia de Ef. 4:14). Tendo sido salvos e ensinados em Cristo, devemos ficar firmes em nossa lealdade para com Ele.

Como em 1:23, fé aqui se refere a alguma sorte de credo ao redor do qual Epafras tinha edificado seu ensinamento. Qualquer outra coisa que tivesse sido incluida na doutrina, certamente era um conceito altamente desenvolvido da pessoa e do trabalho do Senhor (1:14-22). Desta forma, não havia necessidade de ignorância ou heresia; a eles "tinha sido ensinada" a verdade de Deus. Nem era sua limitação a Jesus Cristo e à "fé aceita" para ser considerado um trabalho sem proveito. ABUNDANDO EM AÇÃO DE GRAÇAS. Ação de graças pelo que Cristo tinha feito e estava fazendo por eles. Gratidão enquadra-se a qualquer um de nós. Devemos mostrar a Deus, por obras e palavras que somos realmente gratos (Vide 1:12).

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1 Há vários mistérios distintos mencionados no Nova Testamento (I Cor. 13:2): o arrebatamento dos crentes (I Cor. 15:51-53); de que os judeus e gentios juntos formariam uma Igreja (Ef. 3:8; Rom. 11:25); a união de Cristo e a Igreja (Ef. 5:31,32); Cristo Mesmo (Col. 2:2; I Tim. 3:16; I Cor. 2:7,8); a fé (I Tim. 3:9); as sete estrelas e os sete candelabras (Apo. 1:20); o reino do céu (Mat. 13:11); e a revelação dos poderes do Anti-Cristo (II Tes. 2:6-10; Apo. 17:5-7).

2 Atos 11:14; 15:1-14; 21:18-26; Gal. 2:4-14.

3 Quando uma criança nasce, tem todos os ossos, músculos e nervos que sempre terá. É perfeita, ou homem completa. Contudo ninguém quer que uma criança permaneça para sempre neste estado. Somente quando está completamente desenvolvida fisicamente podemos dizer que é perfeita em ambos os sentidos. Deus não quer que permaneçamos infantes espirituais..

4 J. B. Lightfoot, Colossians, pp. 5-8. (Vide 4:13; Apo. 1:11; 3:14-22).

5 Há uma soma tremenda de confusão entre os manuscritos quanto à correta leitura aqui. Há cerca de nove diferenças principais, desde meramente "mistério de Deus", a "mistério de Deus, a saber O Pai e de Cristo." Um manuscrito omite tudo depois de mistério. O texto de Nestle segue p 46, B, e Hilário. (Vide Cap. I)